Mário Lago

Mário Lago OMC (Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1911 — Rio de Janeiro, 30 de maio de 2002) foi um advogado, poeta, radialista, compositor, escritor e ator brasileiro.

Mário Lago
OMC
Mário Lago
Nome completoMário Lago
Nascimento26 de novembro de 1911
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Nacionalidadebrasileiro
Morte30 de maio de 2002 (90 anos)
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Causa da morteEnfisema pulmonar
Ocupação
Atividade1934–2002
CônjugeZeni Cordeiro (c. 1937; v. 1998)

Autor de sambas populares como "Ai! que saudade da Amélia" e "Atire a primeira pedra", ambos em parceria com Ataulfo Alves, fez-se popular entre as décadas de 1940 e 1950.

Biografia editar

Mário Lago, Francisco Cuoco e Oswaldo Loureiro, 1960, em a cena de Com a pulga atrás da orelha, de George Feydaud.

Filho do maestro Antônio de Pádua Jovita Correia do Lago e de Francisca Maria Vicencia Croccia Lago,[1] e neto do anarquista e flautista italiano Giuseppe Croccia, formou-se em Direito pela Universidade do Brasil, em 1933, tendo nesta época se tornado marxista. A opção pelas ideias comunistas fizeram com que fosse preso em sete ocasiões - 1932, 1941, 1946, 1949, 1952, 1964 e 1969.[2]

Foi casado com Zeli Cordeiro, filha do militante comunista Henrique Cordeiro, que conhecera numa manifestação política, até a morte dela em 1997. O casal teve cinco filhos: Antônio Henrique, Graça Maria, Mário Lago Filho, Luís Carlos (em homenagem ao líder comunista Luís Carlos Prestes) e Vanda.[2]

Carreira artística editar

Começou pela poesia, e teve seu primeiro poema publicado aos 15 anos. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na década de 1930, na então Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde iniciou sua militância política no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, então fortemente influenciado pelo Partido Comunista Brasileiro, PCB.[3] Durante a década de 1930, a então principal Faculdade de Direito da capital da República era um celeiro de arte aliada à política, onde estudaram Lago e seus contemporâneos Carlos Lacerda, Jorge Amado, Lamartine Babo entre outros.[4]

Depois de formado, exerceu a profissão de advogado por apenas alguns meses.[5] Envolveu-se com o teatro de revista, escrevendo, compondo e atuando. Sua estreia como letrista de música popular foi com "Menina, eu sei de uma coisa", parceria com Custódio Mesquita, gravada em 1935 por Mário Reis. Três anos depois, Orlando Silva realizou a famosa gravação de "Nada além", da mesma dupla de autores.

Mário ouve um rádio, em 1945.

Suas composições mais famosas são "Ai! que saudade da Amélia", "Atire a primeira pedra", ambas em parceria com Ataulfo Alves; "É tão gostoso, seu moço", com Chocolate, "Número um", com Benedito Lacerda, o samba "Fracasso" e a marcha carnavalesca "Aurora", em parceria com Roberto Roberti, que ficou consagrada na interpretação de Carmen Miranda.

Em "Amélia", a descrição daquela mulher idealizada, ficou tão popular que "Amélia" tornou-se sinônimo de mulher submissa, resignada e dedicada aos trabalhos domésticos.

Na Rádio Nacional, Mário Lago foi ator de rádio, ele atuou na radionovela, especial da Semana Santa em 27 de Março de 1959: A Vida de Nosso Senhor jesus Cristo, interpretando Herodes, e também roteirista, escrevendo a radionovela "Presídio de Mulheres". Mas só ficou conhecido do grande público mais tarde, pela televisão, quando passou a atuar em novelas da Rede Globo, como "Selva de Pedra", "O Casarão", "Nina", "Elas por Elas" e "Barriga de Aluguel", entre outras. Também atuou em peças de teatro e filmes, como "Terra em Transe", de Glauber Rocha.

Mário esteve na União Soviética, em 1957, a convite da Rádio de Moscou, para participar da reestruturação do programa Conversando com o Brasil, do qual participavam artistas e intelectuais brasileiros. Mas os programas radiofônicos produzidos no Brasil, que Mário mostrou aos soviéticos, foram por eles qualificados de "burgueses" e "decadentes". A avaliação que Mário Lago fez da União Soviética também não foi das melhores. Ali, segundo ele, a produção cultural sofria pelo excesso de gravidade e autoritarismo. Apesar da decepção com a experiência soviética, Mário Lago jamais abandonou a militância política.[6]

Em 1964, foi um dos nomes a encabeçar a lista dos que tiveram seus direitos políticos cassados pelo regime militar, e perdeu suas funções na Rádio Nacional.[1]

Durante a segunda metade da década de 1960, Mário Lago passou a aparecer com frequência no cinema, participando com atuações marcantes em filmes importantes como O Padre e a Moça, Os Herdeiros e Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite. Na década de 1970, iniciou uma carreira de sucesso como ator de telenovelas, com destaque para Cavalo de Aço e O Casarão.

Parecer da censura avaliando a peça "Foru 4 Tiradentes na Conjuração Baiana", de Mario Lago, 1977. Arquivo Nacional.

Autor dos livros Chico Nunes das Alagoas (1975), Na Rolança do Tempo (1976), Bagaço de Beira-Estrada (1977) e Meia Porção de Sarapatel (1986), foi biografado em 1998 por Mônica Velloso na obra: Mário Lago: boêmia e política. Em 1978 Mário Lago tornou-se membro da "Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro" (ACLERJ), tendo como patrono de sua cadeira o teatrólogo Martins Pena.[7]

Em 1989, ligou-se ao Partido dos Trabalhadores e atuou como âncora dos programas eleitorais do então candidato do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, à presidência da República, em 1998.[1]

No carnaval de 2001, Mário Lago foi tema do desfile da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz.[8]

Em dezembro de 2001, recebeu uma homenagem especial por sua carreira durante a entrega do Melhores do Ano do Domingão do Faustão, que, no ano seguinte, ganharia o nome de Troféu Mário Lago, sendo anualmente concedido aos grandes nomes da teledramaturgia.

Em janeiro de 2002, o presidente da Câmara, Aécio Neves, foi à sua residência no Rio para lhe entregar, solenemente, a Ordem do Mérito Parlamentar. Na sua última entrevista ao Jornal do Brasil, Mário revelou que estava escrevendo sua própria biografia. Estava certo de que chegaria aos 100 anos, dizia Mário, "Fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele".

Mário foi um dos grandes compositores de música popular brasileira.

Morte editar

Morreu no dia 30 de maio de 2002, aos noventa anos de idade, em sua casa, na Zona Sul do Rio de Janeiro, de enfisema pulmonar. Para o velório foi aberto o palco do Teatro João Caetano, onde vivera importantes momentos de sua carreira de ator.[1] Até o fim de sua vida manteve intensa atividade política e mesmo doente chegou a se engajar na campanha presidencial apoiando o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Por ter sido estudante do Colégio Pedro II da Unidade São Cristóvão, hoje em dia existe, em sua homenagem, dentro do colégio o Teatro Mário Lago, onde se fazem apresentações culturais de todas as unidades do colégio desde teatro até apresentações dos corais das unidades. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.

Filmografia editar

Televisão editar

AnoTítuloPersonagemEmissora
1963Nuvem de Fogo
-
TV Rio
1966O Sheik de AgadirOtto Von LuckerRede Globo
1967A Sombra de RebeccaTamura
Presídio de MulheresAutor PrincipalRede Tupi
O Homem ProibidoAli YaborRede Globo
1968Passo dos VentosJean Dubois
1969A Ponte dos SuspirosFoscari
Rosa RebeldeBarão de San Juan de La Cruz
1970Verão VermelhoBruno Vilela (Nonô)
1971Assim na Terra como no CéuCarlos Eduardo de Oliveira Ramos
Minha Doce NamoradaCésar Leão
1972Selva de PedraSebastião Vilhena (Sessé)
1973Cavalo de AçoInácio Barros
1974O EspigãoGabriel Martins
1975Cuca LegalAureliano Villaça
EscaladaBelmiro Silva
Pecado CapitalAdalberto Peres (Dr. Peres)
1976O CasarãoAtílio de Sousa
1977NinaAntônio Torres Galba
1978Dancin' DaysAlberico Santos
1979Os GigantesAntônio Lucas
1980Plumas e PaetêsCristiano Mendes
1981Baila ComigoOswaldir Junqueira
BrilhanteVítor Newman
1982Elas por ElasMiguel Aranha
1983Guerra dos SexosElizeu Giácomo (Juiz Elizeu)
Louco AmorAgenor Rocha
1984Padre CíceroNúncio Apostólico
Partido AltoAdamastor de Castro
1985Grande Sertão: VeredasCompadre Quelemem
O Tempo e o VentoPadre Lara
Tenda dos MilagresJoão Reis (Juiz João)
Um Sonho a MaisGuilhermo Del Blanco (Médico Blanco)
1986CambalachoAntero Souza e Silva
Roda de FogoAntônio Villar
1988O Pagador de PromessasDom Germano
1989O Salvador da PátriaJoaquim Xavier (Quinzote)
1990Barriga de AluguelDr. Molina
1991VampJeremias Guimarães
1992Perigosas PeruasDon Garcia
De Corpo e AlmaGetúlio Veiga (Desembargador Veiga)
Despedida de SolteiroOtacílio de Deus (Padre Otacílio)
Você DecideDom Renato (ep. "Justiça de Deus")
1993AgostoAniceto
Fera FeridaBernardo Prestes (Juiz de Paz)
Retrato de MulherEpisódio Especial de Fim de Ano
1994Você DecideJúlio (ep. "Cinderela")
José Luiz Renault (ep. "O legado")
Moacir (ep. "Educação sentimental")
médico (ep. "O transplante")
Dr. Veloso (ep. "Mãe solteira")
Quatro por QuatroHenrique Pessoa
1995Engraçadinha: Seus Amores e Seus PecadosOsmar Farto (Reitor Osmar)
Explode CoraçãoSebastian Flitz
História de AmorProfessor Medina
1996O Fim do MundoFrei Luiz
Quem É Você?Aníbal Machado
1998Hilda FuracãoOlavo
Pecado CapitalDr. Amatto
Torre de BabelJoão Luiz (Padre João)
1999Força de um DesejoDr. Teodoro
2000Brava GenteEleutério (Episódio: "Enquanto a Noite Não Chega")
2001O CloneDr. Molina

Cinema editar

AnoTítuloPersonagem
1948Asas do BrasilGeneral[9]
O Homem que Chutou a Consciência
1949Terra Violenta
Uma Luz na Estrada
O Homem que Passa
1950A Sombra da Outra
1952Pecadora Imaculada
1953Balança Mas Não Cai
1957Papai Fanfarrão
1961Mulheres, Cheguei!Professor
1962Assalto ao Trem Pagador
Assassinato em CopacabanaJoão
1965História de um Crápula
1966Na Onda do Iê-iê-iê
O Padre e a MoçaFortunato
Cuidado, Espião Brasileiro em AçãoProfessor Erasmo Gunther
Essa Gatinha é Minha
1967Na Mira do Assassino
Terra em TranseCapitão
1968A Vida ProvisóriaGeneral Passos
DesesperatoBatista
Massacre no Supermercado
1969Incrível, Fantástico, ExtraordinárioNarrador
Pedro Diabo Ama Rosa Meia-NoiteGonçalo, pai de Pedro
Tempo de ViolênciaDeputado
O Bravo GuerreiroAugusto
1970Os HerdeirosAlmeida
Badalada dos InfiéisDr. Medeiros de Alcântara
1971S. BernardoNogueira
1973Café na CamaAmaral
1978Lá Menor
O Velho Gregório
1983IdolatradaLuís (velho)

Representações na cultura editar

  • Mário Lago foi interpretado pelo músico Supla no filme Noel - Poeta da Vila.
  • Mario Lago foi o nome eleito para assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra - MST em Ribeirão Preto/SP, a ocupação ocorreu na madrugada de 2 de agosto de 2003.

Referências

  1. a b c d Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Mário Lago
  2. a b Reportagem, Ator por acaso, comunista por opção, por Leneide Duarte; Revista IstoÉ Gente, nº 18, de 06 de dezembro de 1999 (acessada em novembro de 2008)
  3. Democracia e Segurança Nacional, por Luís Reznik
  4. O lado político de Mário Lago
  5. Biografia de Mário Lago.
  6. Nave, Santuza Cambraia (outubro de 1998). «Mário Lago: boemia e política». Revista Brasileira de Ciências Sociais. ISSN 0102-6909. doi:10.1590/S0102-69091998000300014. Consultado em 25 de novembro de 2022 
  7. «Os fundadores da ACLERJ» 41 ed. Jornal do Commercio, disponível na Hemeroteca da Biblioteca Nacional. 20 de novembro de 1978. p. 1 (2º caderno). Consultado em 27 de maio de 2024 
  8. «GRES Acadêmicos de Santa Cruz. Homenagem a Mário Lago». Consultado em 26 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 26 de março de 2014 
  9. «Asas do Brasil». Cinemateca Brasileira. Consultado em 15 de setembro de 2022 

Ligações externas editar

Wikiquote
O Wikiquote possui citações de ou sobre: Mário Lago
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Mário Lago