Como Escrever Humor Inteligente

Se quiser escrever cenas de humor inteligente bem realistas e criativas, veio ao lugar certo. Se você está escrevendo um romance ou um roteiro, é importante que os personagens mostrem várias nuances ao falar, e o humor é uma ótima forma de mostrar mais os vários lados dos personagens. Neste artigo, vamos mostrar várias formas de criar situações espirituosas e dar dicas para colocá-las no papel. Nós também vamos dar exemplos e explicar as técnicas por trás eles para você poder praticar na sua escrita.

1

Brinque com as expectativas do público.

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Uma das técnicas mais comuns é brincar de leve com as expectativas das pessoas. Se ficar óbvio demais, o diálogo não ficará engraçado. Pense no que o público presumiria que o personagem iria dizer e vá meio contra isso. Lembre-se de que só terá graça se for bem-humorado e divertido. Se for rude ou curto e grosso, é apenas um bom humor à moda antiga.^{[1]XFonte de pesquisa}
- João: “Eu vou fazer a lição, você só precisa ter um pouco de fé em mim.”
  Júlia: “Fé? Com você eu sou agnóstica. Nunca dá para prever o que você vai fazer.”
  - Aqui, a Júlia pega a frase “ter um pouco de fé” e brinca com ela, dizendo ser agnóstica. O público está acostumado a ouvir ditados sobre fé, mas não espera que a Júlia vá fazer uma referência religiosa.
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2

Use o sarcasmo cômico para deixar uma cena mais interessante.

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O humor provocativo, muitas vezes, beira a paquera. Uma tirada rápida pode aumentar a tensão da cena e mostrar mais traços de personalidade do personagem. Quando feito da forma correta, a técnica faz a relação entre dois personagens parecer bem mais vívida e interessante.^{[2]XFonte de pesquisa}
- João: “Ah, não seja ruim.”
  Júlia: “De ruim eu não tenho nada, meu bem.”
  - Enquanto João usou o termo “ruim” no sentindo de ser maldosa, Júlia aproveitou a deixa para mostrar que valoriza suas qualidades dizendo não ser ruim em nada. O “meu bem”, no final, dá um toque de flerte na frase.

3

Exagere de forma lúdica.

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Os exageros podem deixar claro que uma frase não deve ser entendida de forma literal. Muito do humor inteligente acontece nas entrelinhas mais próximas do que está, de fato, sendo dito. Quando você faz um personagem exagerar de brincadeira, enfatiza que o que ele está dizendo não deve ser levado 100% a sério. Isso sinaliza para o público que é uma situação humorística.^{[3]XFonte de pesquisa}
- João: “Você parece bem animada esta manhã.”
  Jane: “Animada para voltar para a cama, só se for. Mal dormi à noite.”
  - Aqui, o público entenderia o termo “animada” como bem-disposta, mas João está sendo sarcástico, então Júlia aproveitou o termo para dizer, de forma lúdica, que não está nem um pouco disposta.
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4

Faça menção a piadas anteriores de repente.

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Se você criar uma situação memorável, mencione-a depois. Fazer referência a piadas passadas na história é uma técnica clássica da comédia. É uma forma fácil de fazer o público sorrir e de reutilizar um material que já deu certo.^{[4]XFonte de pesquisa}
- Imagine que os personagens são adultos.
  - João: “Você não tem que ir para a escola amanhã? Porque está acordada até tão tarde?”
    Júlia: “Estou sendo uma adolescente rebelde.”
  - Júlia: “Fazendo o que de bom, João?”
    João: “Nada demais, só sendo um adolescente rebelde.”
- A brincadeira de “ter que ir para a escola amanhã” já é legal sozinha, mas a “rebeldia adolescente” foi uma ótima resposta. Depois, João devolve a piada para Júlia de brincadeira.

5

Acrescente humor em uma situação tensa.

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Crie o humor inteligente para se adequar ao que está acontecendo na história para fazer uma virada interessante. Às vezes, não é só o que é dito, mas quando é dito. Se seus personagens estiverem em um lugar ou situação onde o tom deveria ser sério, ou até estiverem correndo perigo, jogar uma brincadeira no meio pode surpreender o público.^{[5]XFonte de pesquisa}
- Imagine que o João e a Júlia estão entrando em um tribunal para testemunhar em um caso criminal.
  - João: “Cara, eu estou uma pilha de nervos. Nunca subi em um palanque desses.”
    Júlia: “Ah, relaxa. Você vive subindo no palaque para dar lição de moral nos outros, vai se sentir em casa.”
- Aqui, o esperado seria que Júlia dissesse alguma coisa para tranquilizar João, e a frase “Ah, relaxa.” faz quem lê acreditar que será isso mesmo, mas aí ela completa com uma alfinetada cômica que ninguém estava esperando.
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6

Use o duplo sentido.

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Qualquer tipo de duplo sentido pode enfatizar as brincadeiras. Quando os personagens usam qualquer tipo de linguagem figurada, ficará implícito que estão se esquivando intencionalmente. Quando se trata de comentários espirituosos com tom de paquera, é uma técnica muito boa para fazer uma relação seguir em frente ou criar tensão sexual.^{[6]XFonte de pesquisa}
- João: “Nós temos uma ótima química.”
  Júlia: “Concordo. Podemos ter física também.”
  - João disse “química” no sentido de ter sintonia, mas Júlia aproveitou que a palavra química também se refere a uma matéria para mencionar outra (física) com o duplo sentido de haver toque físico entre eles.

7

Deixe que as entrelinhas falem por você.

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Forçar o humor, geralmente, não dá bons resultados. Há um ditado antigo que diz que explicar uma piada é como dissecar um sapo: você vai entender tudo melhor, mas o sapo vai morrer, bem como a graça. Não disseque suas piadas deixando as coisas óbvias demais ou explicando muito as coisas. O seu público é inteligente o suficiente para entender o que está rolando.^{[7]XFonte de pesquisa}
- João: “Fazer o quê, eu sou galinha.”
  Júlia: “Bom, então está procurando milho no lugar errado.”
  - João usa o termo “galinha” para dizer que ele corre atrás de várias pessoas em um sentido romântico. Júlia então aproveita a figura de linguagem dele para dizer que ele está “procurando milho no lugar errado”, dando a entender que ele não vai conseguir o que quer com ela. Seria bem menos interessante ou engraçado se ela respondesse só “Eca” ou algo parecido.
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8

Aproveite o humor para avançar no enredo.

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Humor só para fazer rir é legal, mas não é tão produtivo. Não tem problema nenhum usar um diálogo fora do comum para desenvolver um personagem, mas, assim que o traço de personalidade estiver claro, não precisa exagerar. O ideal é usar o humor para levar o enredo para frente, seja criando um conflito, levando um personagem a tomar uma decisão ou revelando um detalhe importante.^{[8]XFonte de pesquisa}
- Vamos aproveitar o exemplo anterior (“Bom, então está procurando milho no lugar errado”). A fala funciona por si só, mas também mostra a falta de interesse de Júlia em ter um relacionamento com João. É um conflito!
- Não há nada de errado em pegar um diálogo normal e dar toques de humor nele, mas evite colocar piadas demais a ponto de fazer o público perder o interesse. Menos é mais aqui.
- Há um elemento de realismo também. As pessoas raramente ficam fazendo piadas ou tiradas engraçadas nas conversas do dia a dia o tempo inteiro.

9

Mantenha o humor leve e casual.

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Se as tiradas forem muito agressivas ou ofensivas, o texto só soará amargo ou sarcástico. Muitas pessoas cometem o erro de achar que provocação e humor são quase a mesma coisa. Via de regra, pergunte-se “Por que este personagem está querendo ser engraçadinho?” Se a resposta for “para ser grosseiro”, “para reclamar” ou “para causar divergência”, então não é humor inteligente, e sim ácido.^{[9]XFonte de pesquisa}
- João: “O vestido ficou ótimo em você.”
  Júlia: “Muito obrigada. E é assim que ficará a noite inteira.”
  - Este é um bom exemplo e diálogo que pode ser humor leve ou só ácido, dependendo do tom da cena. Se a Júlia tem interesse no João e só está se fazendo de difícil, é leve. Já se o público sabe que o João não tem chance nenhuma com a Júlia porque ela não tem interesse algum nele, é humor ácido.
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10

Deixe tiradas ofensivas de lado.

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O humor inteligente nunca deve chocar o público por ser ofensivo. Não importa se é “só uma piada”. Sua história não ganha nada ao escrever tiradas grosseiras ou ofensivas. O bom humor inteligente é como um drinque elegante: desce de forma agradável, e não queima a garganta e dá dor de cabeça.^{[10]XFonte de pesquisa}
- Isto não quer dizer que você não possa ter personagens problemáticos caso eles sejam relevantes para o tema e o objetivo da obra. Porém, como um bom chef de cozinha, meça bem seus ingredientes na hora de colocar pimenta.